sábado, fevereiro 25, 2006

a Caminho

[a Caminho de Santiago . Fevereiro 2005 . na Galiza profunda]

Não há prova possível, mas mesmo assim acredito que seja verdade: existem lugares no mundo onde à nossa chegada ou partida se acrescentam, de forma misteriosa, as emoções de todos os que por lá chegaram ou de lá partiram antes de nós. [...] No pórtico da catedral de Santiago de Compostela encontra-se uma coluna de mármore com marcas profundas de dedos, uma garra comovida, expressionista, moldada por milhões de mãos, entre as quais a minha. [...] Se desconsiderarmos a minha mão, se eu nunca ali tivesse estado, a garra lá continuaria, graças aos dedos de todos os mortos que desgastaram o mármore duro. Mesmo assim, ao colocar a minha mão no mármore duro participei de uma maneira misteriosa numa obra de arte colectiva. Uma ideia que se materializa é sempre um fenómeno espantoso. A força de uma ideia levou soberanos, lavradores e monges a pôr a mão exactamente naquele sítio naquela coluna, cada mão individual tirava uma ínfima quantidade do mármore duríssimo, tornando visível, justamente pelo mármore que tinha desaparecido, a forma de uma mão.
Cees Noteboom

1 Comments:

Blogger Inês Vinagre said...

e chegaste?

2:39 da tarde  

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