sexta-feira, junho 30, 2006

flashback

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um dia alguém te levará pela mão ao cimo dos telhados
pousarás fechado a teu lado o álbum de fotografias
e serenamente te abandonarás aos lírios
como quem pousa sobre os olhos um ferro em brasa

escutarás os lírios enquanto os comboios partirem
e se te derem a mão segredarás: a cegueira é a última visão do
medo

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Isabel Coelho dos Santos
o tempo mais puro . Cosmorama Edições 2004

terça-feira, junho 27, 2006

Mundial

por Miguel Esteves Cardoso
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Até aqui Portugal ainda não tinha jogado no belo estilo CTT (Confusão, Traulitada e Teimosia) em que é campeão mundial. É uma arma secreta e convém não abusar dela. Mas a Holanda, coadjuvada por um árbitro tempestuosamente desequilibrado que parecia fugido das páginas de Dostoievski, provocou os mestres e recebeu a lição que mereceu.
A rapaziada holandesa, como tinha faltado às aulas de futebol, tentou compensar a falta de habilidade com os movimentos aprendidos nas aulas de mergulho. Bastava tirarem-lhes a bola para eles atirarem-se acrobaticamente como se de uma prancha olímpica. Infelizmente o pobre árbitro, um personagem torturado que se convenceu estar a assistir a uma recriação do inferno, deixou-se convencer por três ou sete mergulhos e prejudicou os portugueses.
Estes, obviamente, sentiram-se insultados porque os mergulhos dos holandeses eram de um amadorismo ridículo, faltando-se a verosimilhança do verdadeiro profissional de futebol, obrigatoriamente latino, que sabe o que é o teatro e fazê-lo como deve ser. E, de facto, aquilo não podia ficar assim.
Quando os holandeses, estimulados pela reacção aflita do pobre árbitro, decidiram reforçar o programa de fitas com um pequeno festival de porrada, o capitão Figo viu-se obrigado a decretar oficialmente o estilo CTT. A partir dali, embora a equipa portuguesa sofresse peripécia atrás de peripécia, o resultado final nunca esteve em causa. Porque atrás dos CTT havia uma equipa que sabe jogar futebol (o facto de nem sempre o fazer é irrelevante). Em contrapartida, os CTT dos holandeses eram a única coisa que sabiam fazer – e mal.
Esta vitória foi por isso dupla ou triplamente merecida e é neste contexto fandangueiro que se devem entender gestos aparentemente espúrios como a mão de Costinha ou a cabeçada do magnífico Figo. A violência e a batota da Holanda foram chocantes e inesperadas. Transformaram o jogo numa ópera bufa.
Os portugueses simplesmente aceitaram as alterações e mostraram que não só jogavam melhor futebol como tinham mais jeitinho para essas altas cavalarias cómico-histriónicas.
Há vitórias que sabem melhor do que outras. Esta soube muito bem, muito obrigados. Um bocadinho a pato e tudo!
A coisa promete. E pode ser que depois de vencermos os ingleses venham os desafios realmente emocionantes!

segunda-feira, junho 26, 2006

sex and the city

excuse me? he's just not that into you.

António

encenação de Júlio Cardoso
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"De pé diante dos homens
De joelhos diante de Deus"
D. António Ferreira Gomes

domingo, junho 25, 2006

the last Beat

Conversa com
Lawrence Ferlinghetti, aos 86 anos de idade

Are you saying the word "literarians" refers to all readers of books, as opposed to people who prefer their culture plugged into an electric socket?
Yes. In the 60's, there was a famous slogan,"Be Here Now," which in fact was a best-selling book by Ram Dass. Today, with the cellphones, the fax, the Internet, the whole schmear - the slogan you have today is "Be Somewhere Else Now."

Some critics feel that the colloquial tradition in American poetry lives on most forcefully today in rap music. Do you consider Jay-Z and 50 Cent poets of any sort?
They do performance poetry, but the Beats did performance before the rappers did. The Beats believed that the oral message is what counted, and having your poem printed in a book was not as important.

Lawrence Ferlinghetti

Lawrence Ferlinghetti
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Lawrence Ferlinghetti nasceu no dia 24 de Março de 1919 em Nova Iorque. Figura de proa da Beat Generation, doutorou-se em poesia na Sorbonne, Paris, com a tese intitulada "The City as Symbol in Modern Poetry: In Search os a Metropolitan Tradition". Fundou, com Peter Martin, a revista City Lights, na sequência da qual nasceria a City Lights Bookstore.
Acompanhou a sua acção poética com a actividade de editor, iniciando uma colecção intitulada Pocket Poets onde viria a publicar o famoso poema de Allen Ginsberg que dá pelo nome de Howl. Ferlinghetti foi uma das figuras do movimento Beat mais empenhadas politicamente, possivelmente como consequência dos seis meses passados em Nagasaki após a destruição da cidade japonesa, no final da II Grande Guerra. O seu primeiro livro data de 1955 e foi publicado na City Lights: Pictures of the Gone World.

love at first sight

Então... gostaste do livro?, perguntei-lhe a medo. Não quero que recites os poemas se não achares que valem a pena.
Se gosto? Não suporto imodéstias, disse com ar de poucos amigos. E vi que temos algo em comum: Ferlinghetti.
Ferlin...?
[inverno 2004, encontros pré-lançamento]

sábado, junho 24, 2006

Eureka!

Furo jornalístico: ele falou com os Monty Python e tem agora o exclusivo do jogo entre a Alemanha e a Grécia. Aqui ficam os 11 iniciais.
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Alemanha:1 Leibniz, 2 I.Kant, 3 Hegel, 4 Schopenhauer, 5 Schelling, 6 Beckenbauer, 7 Jaspers, 8 Schlegel, 9 Wittgenstein, 10 Nietzsche, 11 Heidegger.
Grécia: 1 Plato, 2 Epiktet, 3 Aristotele, 4 Sophokles, 5 Empedokles Von Acraga, 6 Plotin, 7 Epikur, 8 Heraklit, 9 Deraklit,10 Sokrates, 11 Arkimedes.
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PS: Deus é brasileiro? Eles que venham.

Free World

[conversas com pré-adolescentes]
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Eles: Estás a ler um livro em Inglês?
Ela: Não, mas é uma boa tradução.
Ele: Ah... "mundo grátis".
Ela: Não, mundo livre.
Ele: Hmm.. Tens a certeza?
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"Free World - a América, a Europa e o futuro do Ocidente", de Timothy Garton Ash.

sexta-feira, junho 23, 2006

doctor house

he said: i don't know if you love me or if you hate me.
she said: i hate you and i love you. but i love him too.
he said: and don' t you hate him?
she said: no.
he walked away. smiling like gioconda.

quinta-feira, junho 22, 2006

ela disse: a vida só se dá para quem se deu.

bom dia

Deus disse [cito de memória]:
Não gosto de quem não dorme.
Que falta de confiança!

segunda-feira, junho 19, 2006

a outra

A Sra. A, mulher do Sr. B, despediu a menina C, secretária do seu marido, depois de acesa discussão em que se questionou a decência das respectivas mãezinhas. A Sra. A pôs as malas do Sr. B à porta de casa, que está desolado e pretende indemnização por danos morais e patrimoniais. A menina C pretende ser indemnizada e compensada e já agora levar uma carta de recomendação pela qualidade dos serviços prestados. A Sra. A jura que eles estão bem um para o outro, mas que tem direito à empresa e aos bens herdados do paizinho, afiançou-lhe o Sr. D, cavalheiro à antiga e bem parecido. Quid juris?
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É nestas alturas que se fala em dar a outra
face?

domingo, junho 18, 2006

justa-posição

se os fins não justificam todos os meios,
que fins justificam que meios?
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não há nada mais idiota do que falar de coisas mais-que-sérias com conceitos mais-que-indeterminados.

sábado, junho 17, 2006

La Culture contre la barbarie

George Steiner é capa da 'magazzine litéraire' (alguém me corrija este francês...), num artigo que se intitula "La culture contre la barbarie". Ai George... tão elegante de início, damos-te abuso e tornas-te um autêntico grilo falante.
Shiuuu.
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“Todas as minhas categorias são éticas”, afirma George Steiner. “É um absoluto. As minhas metáforas são decerto religiosas, mas são mais poderosas assim. O mistério do pecado que combate o Espírito Santo existe (...) e é o único que Deus não perdoa (...) Na minha profissão, são uma citação falsa. Em medicina, aplicar veneno em vez de medicamentos. Outro caso é o do professor que se serve do seu carisma e da sua autoridade para atentar contra a sexualidade dos alunos”.
in Revista CRITÉRIO, Maio 2006

quinta-feira, junho 15, 2006

formidável, não acha?

Descobrimos este texto ainda uns miudos. Alguns anos depois, menos miudos e com os níveis de ingenuidade em tendência inversamente proporcional à da inflação, a verdade é que nos apetece dizer este texto pelo menos uma vez por dia. Às vezes ao espelho.
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"Sente-se. Está sentado? Encoste-se tranquilamente na cadeira. Deve sentir-se bem instalado e descontraído. Pode fumar. É importante que me escute com muita atenção. Ouve-me bem? Tenho algo a dizer-lhe que vai interessá-lo. Você é um idiota. Está realmente a escutar-me? Não há pois dúvida alguma de que me ouve com clareza e distinção? Então Repito: você é um idiota. Um idiota. I como Isabel; D como Dinis; outro I como Irene; O como Orlando; T como Teodoro; A como Ana. Idiota. Por favor não me interrompa. Não deve interromper-me. Você é um idiota. Não diga nada. Não venha com evasivas. Você é um idiota. Ponto final. Aliás não sou o único a dizê-lo. A senhora sua mãe já o diz há muito tempo.Você é um idiota. Pergunte pois aos seus parentes. Se você não é um idiota... claro, a você não lho dirão, porque você se tornaria vingativo como todos os idiotas.Mas os que o rodeiam já há muitos dias e anos sabem que você é um idiota. É típico que você o negue. Isso mesmo: é típico que o Idiota negue que o é. Oh, como se torna difícil convencer um idiota de que é um Idiota.É francamente fatigante. Como vê, preciso de dizer mais uma vez que você é um Idiota e no entanto não é desinteressante para você saber o que você é e no entanto é uma desvantagem para você não saber o que toda a gente sabe. Ah sim, acha você que tem exactamente as mesmas ideias do seu parceiro.Mas também ele é um idiota. Faça favor, não se console a dizer que há outros Idiotas: Você é um Idiota. De resto isso não é grave. É assim que você consegue chegar aos 80 anos. Em matéria de negócios é mesmo uma vantagem. E então na política! Não há dinheiro que o pague. Na qualidade de Idiota você não precisa de se preocupar com mais nada. E você é Idiota (Formidável, não acha?)"

Brecht

ben-u-rom

ele perguntou-lhe: "estás melhor?"
ela pensou que há muito tempo que não se sentia tão bem.
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[oh... such a beautiful boy]
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ramados, mas com nível

ele cantava-lhe ao ouvido um poema do Pessoa em francês.
o outro traduzia para bom português.
ela ria. chorámos a rir.

flash

ele cantou-lhe ao ouvido, na varanda
e disse: "não sejam parvos, ela é a minha melhor amiga".

wednesday night's fever

eu bebo
tu bebes
ele bebe
nós cozinhamos
vós arrumais a casa
eles não se lembrarão de nada amanhã

terça-feira, junho 13, 2006

what can i do?



Você nem sabe bem por onde anda, a maior parte do tempo só quer é aproveitar o bom da vida, sem se preocupar demasiado. Não é ambicioso, por isso, para si, tudo o que vier á rede é peixe, valoriza o bom que lhe acontece e se por acaso as coisas lhe correm mal você encolhe os ombros e diz: Siga! Olhado com simpatia e curiosidade por quem o rodeia, você não tem mau perder e para si ganhar é quase um milagre.

dizem eles.

ele pediu-lhe para ir devagar.

ela sabia que ele falava de precauções rodoviárias.

domingo, junho 11, 2006

your way

Enviei sms ao Sinatra, mas parece que ele mudou de número... Em todo o caso, ele já me tinha dito, mais dia menos dia, o Frank vai ligar-te. Para te dar um abraço de parabens, disse ele.


And now, the end is near;
And so I face the final curtain.
My friend, I'll say it clear,
I'll state my case, of which I'm certain.

I've lived a life that's full.
I've traveled each and every highway;
And more, much more than this,
I did it my way.

Regrets, I've had a few;
But then again, too few to mention.
I did what I had to do
And saw it through without exemption.

I planned each charted course;
Each careful step along the byway,
But more, much more than this,
I did it my way.

Yes, there were times, I'm sure you knew
When I bit off more than I could chew.
But through it all, when there was doubt,
I ate it up and spit it out.

I faced it all and I stood tall;
And did it my way.
I've loved, I've laughed and cried.
I've had my fill; my share of losing.

And now, as tears subside,
I find it all so amusing.
To think I did all that;
And may I say - not in a shy way,
No, oh no not me,
I did it my way.

For what is a man, what has he got?
If not himself, then he has naught.
To say the things he truly feels;
And not the words of one who kneels.

The record shows I took the blows -
And did it my way!

I know you do.

sábado, junho 10, 2006

E ainda...

...às 18.30h, também hoje na Feira do Livro,

valter hugo mãe, miguel veiga, maria joão reynaud e carlos reis
estarão numa mesa de
homenagem ao mário cláudio.

Zé Rui, lá estarei

apresentação de "o fogo e outros utensílios da luz"
de José Rui Teixeira
Hoje (10 de Junho) às 21h30, decorrerá a apresentação de "O fogo e outros utensílios da luz", de José Rui Teixeira,
no café literário da Feira do Livro do Porto.

valter, count on me

apresentação de «o remorso de baltazar serapião»,
de valter hugo mãe

desculpem voltar à carga,
é só para vos lembrar de que é hoje (dia 10), às 16h30,
no café literário da feira do livro do porto,
que o jorge pinho apresenta o meu segundo romance
«o remorso de baltazar serapião».
aquela história de não me deixarem lá sozinho? sim, é agora.
apareçam se puderem.

valter hugo mãe

esses difíceis amores

ai ai
ai ai ai

sexta-feira, junho 09, 2006

Feira do Livro

O volume de negócios das editoras portuguesas recuou cinco por cento no ano passado. Se o 'Código da Vinci' não consegue salvar a actividade, que outra obra-prima irá consegui-lo?

in Dia D, 29.5.2006

a ideia de Europa

João Paulo II
in Discurso à chegada a Madrid, 3 de Maio de 2003

"A Europa inteira encontrou-se a si mesma em torno desta 'memória' de Santiago, nos mesmos séculos em que se edificava como continente homogéneo e unido espiritualmente. Por isso, o próprio Göethe insinuará que a consciência da Europa nasceu peregrinando."

quinta-feira, junho 08, 2006

eyes wide shut

efeito ou consequência de tomar cafés como quem bebe shots na queima.

la vie en rose

olhos nos olhos
não é fácil
mas vale a pena

quarta-feira, junho 07, 2006

clichê

ele escreveu, como se ela subscrevesse:


Ele disse...
Porque é que vocês mulheres nos tentam impressionar sempre com o vosso aspecto em vez de o fazerem com o vosso cérebro?

Ela disse...
Porque há mais hipóteses de um homem ser imbecil do que cego...

economia comum ou união de facto?

E voas até ao topo
E fumas do meu cigarro
E bebes do meu copo
[Carlos Tê / Rui Veloso]
Ele estava em poupança de energia, e ela virou off.
Ele diz que não entende.
Ela não diz nada, como se entendesse.

terça-feira, junho 06, 2006

so help me god

Ela pediu-lhe que definisse a natureza humana.
Ele disse: a cabeça humana é um microprocessador com capacidade de aprendizagem.

Ele não sabe, mas conseguiu o mix entre o platonismo e as correntes materialistas numa só frase.

segunda-feira, junho 05, 2006

ainda esses difíceis amores

Há outra fábula muito conhecida. Um sapo transporta um escorpião a vau e a meio do rio sente o ferrão nas costas. O escorpião justifica a sua atitude dizendo: "é a minha natureza". É uma fábula mal contada. É impossível que um sapo ignore o ferrão fatal dos escorpiões e a natureza traiçoeira dos escorpiões. Se um sapo transporta um escorpião às costas é porque está decidido a morrer.
eles disseram adeus.
ela não sabe se é o sapo com um lampejo de lucidez, se o escorpião num momento de fraqueza.
ou ambos.

domingo, junho 04, 2006

meu fiel webmaster...

...podes colocar esta dependência na barra lateral do blog?

diáfano

Eles foram ungidos.
Digo: caminharei contigo, a minha mão sobre o teu ombro.

pseudo-Pessoa

Sobre o sucesso global de Pessoa, poeta obscuro e elitista agora citado por multidões, Lourenço disse uma coisa muito justa: que esse culto não o desgosta, porque acha comovente que as pessoas admirem o que não compreendem.

Pedro Mexia (aqui)

sábado, junho 03, 2006

100 +/-

Ela toma chá na Rua dos Mártires da Liberdade.
Sente que é quase heróico fazê-lo.

he said

If I have seen further than others,
it is by standing upon the shoulders of giants.

quinta-feira, junho 01, 2006

entendam-se para aí

Ele disse que eles (ela e ele) andam a plagiá-lo, no seu jeito de bloggar.
Ela pensou, pensou e chegou à conclusão de que ele é um profeta da sua mensagem.
Tinha que chegar primeiro a anunciar.
enquanto ele dorme,
ela aceita cerejas.