sábado, setembro 24, 2005

Ontem estive na apresentação do livro do José Rui Teixeira - assim na terra - e é magnífico esse lugar. Ouvir poemas destes ao som de Sigur Ros é quase etéreo, impuramente etéreo... uma humanidade com um pouco, um pouco mais de beleza.
Falei com o Jorge Melícias e com o valter hugo-mãe; e com o João Bateira e o José Nuno Magalhães. Há poetas que é mesmo um privilégio conhecer. Falei também com a Eunice Maia, sobre a dissertação de mestrado que está a fazer sobre a poesia do José Rui Teixeira: e foi um prazer.
E estavam lá os amigos, alguns antigos professores e outras pessoas muito especiais com as quais partilho as horas dos meus dias - não preciso dizer os nomes, mas deixo-te, Gonçalo, um obrigada especial. E estavam ainda amigos de amigos, amigos que vieram de longe. E é incrível que as pessoas ainda se reunam assim, pela corrente das palavras e dos afectos.
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Mother with two Children, de Egon Schiele
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Nasceste numa manhã como se fosse um lugar branco
e as mãos entranharam-se em ti para te dar à luz.
Mas não te deram asas no dia em que nasceste.
Nem te deram luz. Deram-te uma ferida e um coração
de carne e tiveste que aprender a ver através das
superfícies. Não te disseram que morrerias, nem
te deram um lugar branco onde pudesses morrer.
Tiveste que aprender que nunca é de manhã quando
se morre e que as mãos já não se entranham em ti,
mesmo que morras luminosamente.

Deram-te à luz,
mas não te deram asas no dia em que nasceste. Nem
te deram luz. E tiveste que aprender sozinho o ofício
de morrer. E um dia pareceu-te excessivamente escuro
o mundo, excessivamente escuro para ser manhã. E a luz
a que te deram quando nasceste pareceu-te um clarão
fóssil, excessivamente longe para o ofício de voar.
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José Rui Teixeira . assim na terra . cosmorama edições 2005